segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Em 1ª missa, padre expulso pela ditadura usa tom político



Na missa que comemorou a autorização para que voltasse definitivamente para o Brasil, o padre italiano Vito Miracapillo, 65, não deixou de lado o discurso político que lhe rendeu a expulsão do País em 1980, durante a ditadura militar.

Na noite de sábado, o regresso do religioso lotou a modesta Capela de São Pedro e São Paulo, erguida por ele mesmo em Ribeirão, pequena cidade, na zona da mata de Pernambuco.

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Aplaudido de pé mais de uma vez, abraçado e beijado por cerca de cem pessoas, Miracapillo reforçou a necessidade de participação da igreja na política.

"Sempre acreditei que a igreja e o trabalho pastoral ajudassem a política a ser justa e a saber distribuir as riquezas do país", disse o padre que foi obrigado pelo regime militar a deixar o Brasil depois que se negou a celebrar missa em comemoração ao Dia da Independência.

Mesmo longe, na Itália, o religioso acompanhou a evolução do país. "De 1993 para cá eu vi que houve melhoras. Mas na democracia os problemas têm que ser resolvidos estruturalmente. Acho que o Brasil está criando condições autênticas de democracia", afirmou.

A notícia de que Miracapillo estava de volta se espalhou aos poucos pela cidade. Muitos dos que chegaram para a missa foram pegos de surpresa.

"Foi uma maravilha vê-lo aqui. Ribeirão renasceu hoje", disse o agricultor aposentado Amaro Pedro Feliciano, 70, que teve os três filhos batizados por Miracapillo.
A dona de casa Aloína Ribeiro, 70, lembra bem do dia que o religioso foi mandado embora de Ribeirão.

"Todo o mundo se entristeceu. Muita gente chorou. O povo foi levar ele na rodoviária, que ficou lotada. Ele foi um padre fiel, um cidadão."

A expulsão foi pedida pelo então deputado estadual pela Arena Severino Cavalcanti (PP), que disse à Folha, na semana passada, acreditar que tomou a medida mais adequada para o momento.

Para Miracapillo, o governo já queria expulsá-lo há mais tempo, por conta do trabalho pastoral que desempenhava. A recusa foi apenas um pretexto.

Em 1993, o decreto de expulsão foi revogado e Miracapillo passou a visitar o Brasil como turista.

No final do ano passado, o religioso recebeu autorização do Ministério da Justiça para voltar ao Brasil em definitivo. Agora o padre depende de seus superiores eclesiásticos na Itália para voltar de vez para Ribeirão.

Fonte: Folha (aqui)

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