segunda-feira, 12 de setembro de 2016

'Rio de sangue' na Sibéria faz parte de área morta cinco vezes maior que SP


Cor avermelhada domina o rio Daldykan em Norilsk, na Sibéria, que abriga uma grande mina de cobre

Um rio no extremo norte da Sibéria ficou vermelho vivo nesta semana, e na ausência de alguma explicação oficial, os russos passaram a chamar o estranho curso de água de "rio de sangue".

Um indício para uma possível causa é o caminho que o rio, o Daldykan, faz, ao longo da mina Norilsk Nickel e da metalúrgica, de acordo com muitos parâmetros um dos empreendimentos mais poluentes do mundo.

A fábrica expele tanto dióxido de enxofre produtor de chuva ácida —2 milhões de toneladas por ano, mais do que toda a França— que é cercada por uma zona morta de troncos de árvores e lama, correspondente a cerca de cinco vezes o tamanho da cidade de São Paulo.

As fundições de metal nesse Klondike russo produzem grandes quantidades de cobre, um quinto do níquel mundial, uma liga de aço inoxidável importante e metade da oferta mundial de paládio, um metal precioso quase tão valioso como a platina.

O minério também contém ferro, mas esse elemento avermelhado é muito menos valioso do que os metais preciosos extraídos junto com ele, e é geralmente descartado em lagoas de lama.

Essa é a fonte mais provável da descoloração no "rio de sangue", de acordo com grupos ambientais e autoridades ambientais russas, e a tonalidade vermelha seria proveniente do óxido de ferro, ou ferrugem.

Essa conclusão foi oficializada na quarta-feira quando o Ministério dos Recursos Naturais divulgou uma declaração em que dizia que as "informações preliminares para uma possível causa da contaminação é a ruptura de um tubo em Norilsk Nickel".

Se for assim, embora sem dúvida chocante, a água quase iridescente seria praticamente inofensiva para as pessoas, disse Vladimir Chuprov, pesquisador do Greenpeace na Rússia. Mas as altas concentrações de elementos podem matar os peixes.

A cor vermelha também pode ser, assim, uma espécie de faixa, já que a pasta de ferro parece tender a ser acompanhada por metais pesados criados pelas fundições da Norilsk, o que poderia danificar o frágil meio ambiente do Ártico, disse Chuprov.

O presidente Vladimir Putin "prometeu que o desenvolvimento industrial no Ártico avançaria com o máximo cuidado", disse Chuprov em uma entrevista por telefone. "Infelizmente, essas palavras são apenas uma formalidade."

Autoridades da fábrica disseram às agências de notícias estatais da Rússia que tinham reduzido a produção em uma fundição como medida de precaução, mas que não encontraram nenhum vazamento. Na verdade, segundo a empresa, "pelo que sabemos, a cor do rio hoje não é diferente da habitual."

Tradução de DENISE MOTA 

Fonte: Folha (aqui)

MEUS COMENTÁRIOS:

Infelizmente, o cuidado com os recursos hídricos é necessário em todo o mundo, mas nem sempre esse cuidado é realizado.

Alguns países elegem áreas e rios de sacrifício, como se fosse uma área onde se pode contaminar e descartar os rejeitos, como "preço do desenvolvimento". Mas na natureza, tudo está interligado, portanto, não há como ter uma área de sacrifício, isso vai acabar por contaminar outras áreas também.

O descuido com o meio ambiente nunca foi privilégio ou característica dos modelos capitalistas ou socialistas. Ambos os modelos trazem consigo grandes passivos ambientais.

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